segunda-feira, dezembro 19, 2011

O dia seguinte.


Hoje eu acordei, com o mesmo cabelo amassado, o mesmo pijama, na mesma cama, na mesma casa, com olheiras cem vezes piores do que as normais e sem você. Pela primeira vez, você foi embora e não voltou, não tentou se reaproximar, não voltou com cara de riso, só pra eu esquecer a raiva, não chegaram flores, nem e-mails, nem a lua apareceu essa noite, você acredita? Pela primeira vez, você agiu como os outros. Todos os outros, os que me largaram porque eu era estranha demais, porque eu era alta demais, magra demais, triste demais, falava demais. Você dizia que eles me largaram porque eu era demais, demais pra eles. Mas e agora? Eu sou o que? Sou a sombra de alguém que chorou a noite toda, esperando que o peso passasse de manhã. Esperando que você estivesse me olhando quando eu acordasse. Eu me levantei e o peso ainda estava ali, nas minhas costas, nos meus pés, fazendo eu me arrastar pela casa, fiz café. O café de sempre. O que você reclamava por estar forte demais. Mas o café agora era meu. Forte, do jeito que eu sempre gostei. Comecei a tomar e a tristeza me invadiu, vem cá, briga comigo, diz que cafeína faz mal, que eu ainda vou acabar com meu estomago tomando isso, que eu preciso aprender tomar chá. Derrubei a xícara, assustei o gato,manchei o tapete, quebrei meu ego. Eu vou ligar, contar pra ele da xícara, é uma boa desculpa, aproveito e especulo como esta a voz dele. Não! Qual seu problema? Não pode fazer isso. Por sorte, não fiz. Sai pro trabalho, o jardim, o transito, a chave do carro, o cara da rádio, a música, o mendigo pedindo dinheiro no sinal, o meu chefe, o papel em branco na minha mesa, o garçom do restaurante, não to com fome não vou almoçar, a estagiaria simpática, eu não consigo trabalhar, será que vocês podem digitar mais baixo, eu não me concentro assim, o caos do transito na volta, o barulho da fechadura, a comida congelada, o chuveiro que demora a esquentar. Porque todos eles ficam gritando seu nome? Porque eles ao invés de me ajudarem te esquecer, ficam assim, sem mais nem menos me jogando na cara o quanto sinto sua falta? Poxa, me ajudem... Eu preciso saber, às vezes o seu celular pifou, seu carro enguiçou, melhor eu dar uma forcinha pro destino, não custa nada né? Eu ligo. Caixa postal. Eu falei! Meu Deus, porque eu sofri esse dia inteiro, ele deve ter se desesperado o dia todo, por não falar comigo, vai pedir perdão, vou me arrumar, amanhã vou tomar café fraquinho, eu prometo, vai ficar tudo bem. Pego, a chave do carro e saio. Ele não está em casa, onde ele foi? Será que foi me procurar? Ligo, o porteiro diz que não. Meu Deus, será que ele está bem? Enquanto vou andando pela cidade, ligo pra família toda, ninguém sabe dele, hospitais, casas de amigos... Desato a chorar. Pra melhorar minha cena de filme, um temporal desaba em minha cabeça. Entro no primeiro bar que encontro, preciso beber. Sinto olhares me seguindo até o balcão, ignoro. Um whisky. Duplo, por favor. Ouço meu nome, minha cabeça gira, você nem bebeu ainda, garota, já está delirando? Eu te disse que ia ficar louca, ouvir a voz dele, daqui a pouco está vendo ele nos lugares. Sinto alguém me tocar, meu nome de novo. Aquele perfume. Não consigo olhar, meus olhos fechados, com medo, eu não quero enlouquecer, não quero. A curiosidade foi maior. Era ele. E estava ali, e não era sonho. Você veio, eu chorava, e o beijava e abraçava. Ele imóvel. Atônito. Em silêncio. Um vulto e outra voz, feminina, quem é ela? Quem sou eu? Eu sou a namorada dele, nós nos amamos, brigamos ontem, mas ele voltou, ele veio me buscar, meu carro está lá na sua casa, vamos pra lá, eu preciso tanto te contar, assustei o gato hoje, e agora ele sumiu. E ele imóvel.  Olho pro vulto e entendo tudo. Por favor, me desculpe, eu não queria interromper, eu não quis dizer isso. Olha, me perdoe. Eu nem o conheço, viu? Me perdoem. Saio com passos largos, as lágrimas tomavam meu rosto, inundavam meus olhos, esbarrei em três, quatro cadeiras, pessoas, não sei. Eu não sabia mais o que era choro, o que era chuva. Eu pensei que ia morrer. Mas aí me lembrei de você reclamar de eu nunca ter feito nenhum texto sobre você, sobre nós e resolvi que faria. Como uma despedida.

3 comentários:

  1. Waw...Acabaste de postar exactamente o que sinto neste momento :$
    Amo vir aqui.

    http://soentrenosmulheres.blogspot.com

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  2. Este texto da Thais é realmente mto booom
    Bem meu momentoo, muuuuuito obrigada por gostar do meu cantinho rs
    Volte sempre

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  3. Obrigada por gostar daqui
    E também já estou seguindo, tudo lindo em seu blog tbm ;D

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